Turismo interno do Brasil é informal e discriminado
José Queiróz
Não há uma instituição responsável pelo turismo interno no Brasil, e essa é uma preocupação compartilhada por operadoras e agências que estão fora do círculo Abav, secretarias e Ministério do Turismo. O Estado brasileiro manipula e prejudica este setor do turismo no país! O negócio é voltado exclusivamente para a venda de viagens, não inclui o cuidado com os atrativos. Estes são responsabilidades de terceiros, sem conhecimentos técnicos, despreparados. Governantes puramente políticos, ‘desqualificados’, impõem procedimentos esdrúxulos e prejudicam a atividade. O país renega seus turismólogos! Várias faculdades de turismo fecharam as portas no governo do PT.
Turismo não pode ser feito por qualquer pessoa, como defende Luiz Trigo, da USP! Aliás, vender, que é sua especialidade, pode ser. E o Brasil é muito bom nesse setor. Mas recepcionar, especializar-se em perfis e interesses - inclusive das operadoras! - dominar idiomas e representar a cultura dos lugares, não é tarefa simples. Por incrível que pareça, essas qualidades indispensáveis aos profissionais de turismo receptivo de qualquer país, são desprezadas pelos operadores e desconhecidas do público brasileiro. O turismo interno e seus profissionais ainda são vistos como invasores, exploradores e predadores. São discriminados em muitos lugares! E os turistas que enriquecem os vendedores de viagens, têm direitos legais, são muito mal atendidos no país.
Desde 1972, quando foi criada a Convenção sobre a Proteção do Patrimônio Cultural e Natural, o turismo demonstra preocupação com o meio ambiente, povos, monumentos e culturas. Várias legislações foram criadas para proteger lugares e turistas, inclusive criou-se o Direito do Turismo em 1999, na França. Porém, o Brasil está imensamente atrasado nessa área, e pior, burla acintosamente várias legislações, a começar pelo Direito do Consumidor, que enquadraria muita operadora e hotel se fosse devidamente fiscalizado. Luiz Trigo e seus vendedores mantêm o turismo interno do Brasil na informalidade!
É o que vem acontecendo em Salvador e Praia do Forte, onde hotéis e resorts não dão opção de pesquisa, serviços e preços aos hóspedes. Costa do Sauípe, com cinco resorts e cinco pousadas, é exclusividade de uma única agência e de taxis. Isso é o pior que poderia acontecer ao turismo de Salvador! Os atrativos, hotéis e equipamentos da cidade, e de Praia do Forte, estão tomados por agências e cooperativas de taxis, e os turistas na região não têm acesso aos profissionais de turismo autônomos. Ou compram o que a agência tem, ou passeiam em taxi! O turista que sai de um resort para Salvador, nesses carros, vai direto ao Pelourinho, lá o motorista atua ilegalmente como guia, ou indica pseudos guias que comprometem a imagem do turismo e dos profissionais da cidade, e a própria economia local. As instâncias do turismo não interferem, não há uma instituição que represente o receptivo, e Salvador já é tida como uma cidade de péssimo serviço turístico.
A prefeitura de Salvador e a Agerba – Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de Energia, Transportes e Comunicações da Bahia - estão dificultando a circulação de carros de turismo, proibindo estacionamento, cobrando procedimentos e documentos que não foram regulamentados ou exigidos antes pelo Ministério do Turismo, que tampouco avisou, não deu tempo para os profissionais se adequarem. Basta uma olhada rápida pelos atrativos, como Pelourinho, Farol da Barra e Dique do Tororó, em equipamentos como o Aeroporto, Terminal Turístico – esse é uma vergonha! – e no Porto, além dos hotéis da cidade. Não há lugar para carros de agências e guias de turismo! O turista que chega para conhecer a cidade que é destino cultural, e quer saber mais sobre a História, o povo, a cultura popular, o Jorge Amado, ou quer conhecer atrativos, museus e galerias de arte, tem que comprar serviços de intermediários, ou tomar taxi.
O Brasil precisa criar a associação nacional de turismo receptivo, os estados e municípios turísticos devem ser representados, e a atividade profissionalizada. É preciso conhecer e prestigiar os cientistas do turismo do país, como a doutora, professora e incansável Margarita Barreto, autora do Manual de Iniciação ao Estudo do Turismo, e muitos outros livros, artigos e trabalhos, e o não menos ilustre João dos Santos Filho, autor da Ontologia do Turismo, além de muitos outros profissionais dedicados a atividade e sua grande responsabilidade social e cultural. É preciso integrar os turismólogos à atividade, sair do amadorismo. Governantes e operadores brasileiros não se deram conta de outra qualidade do Turismo, a de veículo de informação real, que já transmitiu ao mundo a realidade brasileira. Só há uma opção, profissionalizar-se, ou eternizar a imagem de malandros e incapazes e afastar turistas, o que já vem ocorrendo. Nesse caso, não é discriminação.
O autor é agente de turismo em Salvador e coloborador do Jornal Bahia Online